sexta-feira, 6 de maio de 2011

Violência invade a sala de aula

Alunos da escola que teve um estudante assassinado, na última quarta-feira, relatam cotidiano de insegurança. A violência e o envolvimento com drogas prejudica desenvolvimento nas unidades de ensino


Um cartaz e o porteiro foram responsáveis por dizerem aos alunos que não haveria aula ontem (FOTO: KLEBER A. GONÇALVES)

Medo e incapacidade de fazer algo diante da violência que vem entrando pela porta da frente das escolas e ocupando espaços antes reservados à aprendizagem de uma vida melhor.


Na manhã de ontem, a Escola de Ensino Fundamental e Médio Joaquim Alves, no Panamericano, estava fechada. A noite anterior temporalizara um crime de vingança e deixara estirado no chão o aluno Alessandro Rosa da Silva, 23, após dezenas de estudantes terem presenciado a cena da morte do colega, atingido por oito tiros.


O crime se repete cada dia com mais frequência, no Brasil, impulsionado pela falta de segurança e pela vulnerabilidade crescente de jovens em meio à realidade do tráfico de drogas. A vítima não se restringe apenas ao rapaz morto, mas à toda comunidade escolar.


O único encontrado na escola, ontem, foi o porteiro com dez anos de experiência, Francisco Rodrigues, 42. A firmeza para seguir a orientação da direção, logo foi substituída pela vontade de externar uma angústia aparentemente acumulada.


“Fomos instruídos para não falar”. Silêncio. “A gente é agredido moralmente, não temos apoio, proteção, garantia de nada. Eu não tenho mais condição de trabalhar em escola”, revela, tomando fôlego para retornar à força que deve caracterizar sua função. “É isso. Até o telefone tiraram do gancho. Ninguém pode falar”. E sai.


Não posso falar


Os alunos temem retaliação. “Não posso falar”, é o que mais se ouvia. Ainda assim, a vontade de dizer o que pensavam era evidente. As vozes deles formavam um coro de apelo.

“Eu estou apavorada, ontem não consegui dormir. A gente sabe que pode acontecer de novo porque violência aqui tem demais. Eles (traficantes) ficam aqui na esquina da escola, fumando e oferecendo. Ninguém faz nada”, diz uma aluna, que pede para não ser identificada. “Qualquer um entra (na escola) na hora que quer. E dentro da escola, o pessoal fica fumando, principalmente, à noite. A escola não faz nada, o pessoal não respeita nem os professores”, desabafa outro estudante.


Para os familiares, a aflição é ainda maior. A costureira Maria Rodrigues, 57, resolveu transferir a neta para um colégio particular. “A escola não é mais como antes. Essa violência, as más companhias deixam a gente com medo. Não passa mais os valores nem a autoridade de ontem, afirma.


O POVO tentou conversar com os professores e a direção da escola Joaquim Alves, mas ninguém quis falar. Fomos informados apenas que a direção estava em reunião durante todo o dia de ontem e hoje a escola funciona normalmente.


O quê


ENTENDA A NOTÍCIA

Na noite de quarta, um estudante foi assassinado no pátio da Escola Joaquim Alves, que possui cerca de mil alunos, nos três turnos. A violência nas instituições de ensino vem crescendo e assusta professores, pais e alunos.


SAIBA MAIS


Neste ano, dois outros crimes ocorreram dentro de escolas públicas no Ceará.

No dia 28 de março, Thiago Freitas de Menezes foi assassinado dentro do Colégio Polivalente, no Conjunto Prefeito José Walter.

Thiago não era aluno da escola. Segundo a Polícia, ele morava no bairro.

No dia 26 de abril, em Sobral, bandidos invadiram uma escola para tomar a arma do vigilante.

O vigia reagiu e matou um dos assaltantes.

De acordo com o coordenador-administrativo da Seduc, Marcelo Bezerra, os vigilantes das escolas não podem ter armas de fogo

O treinamento dos vigilantes ou porteiros escolares é de responsabilidade da empresa contratada.

Por Sara Rebeca Aguiar | sararebeca@opovo.com.br

Fonte : O Povo Online

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