Equipamento da Barra do Ceará já tem pessoal
treinado para conter rixas. Ideia é formar multiplicadores nas
comunidades do entorno. Cucas do Jangurussu e Mondubim já nascerão com o
Núcleo de Mediação de Conflitos.
Bruno de Castro
brunobrito@opovo.com.br
Nem só da promoção de
atividades culturais e profissionalização de jovens vive o Centro Urbano
de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (Cuca) da Barra do Ceará. O
descontrole da violência no bairro, há anos ocupando os primeiros
lugares do ranking de assassinatos em Fortaleza, forçou a criação de um
Núcleo de Mediação de Conflitos no equipamento. Espaço que também
existirá nos dois Cucas a serem inaugurados este mês pelo prefeito
Roberto Cláudio (Pros).
Sejam de natureza interpessoal ou
territorial, especialistas ouvidos pelo O POVO acreditam que os
conflitos têm reflexo direto nos elevados índices de mortes violentas
registrados no Ceará nos últimos anos. Em 2013, por exemplo, foram 4.462
assassinatos, latrocínios (roubos seguidos de morte) e lesões seguidas
de óbito. O cenário no Estado é de epidemia.
Com os núcleos,
num primeiro momento, a Prefeitura pretende atuar nos conflitos de
natureza interpessoal. Ou ainda nos territoriais com algum reflexo na
rotina dos Cucas, como já ocorreu algumas vezes. “Treinamos os
funcionários para prevenirmos algumas situações possíveis de antever.
Esse pessoal já atua em mediações o tempo todo”, revela a supervisora de
mediação de conflitos da Rede Cuca, Vita Saraiva.
Conforme
ela, os embates territoriais e ligados a questões maiores como o domínio
do tráfico de drogas seriam reflexo de uma política de propagação da
figura do mediador pelas populações do entorno dos Cucas. Além da
repressão policial e da oferta de melhores serviços públicos em
educação, saúde, esporte e lazer. “A gente pretende formar
multiplicadores nas comunidades. Mostrar pras pessoas que não seja só eu
ou os outros funcionários os responsáveis por evitar essas brigas. Mas
todo mundo. A sociedade também pode cuidar das relações”.
Ainda
não há como mensurar o impacto de redução que esse trabalho teria nas
estatísticas de mortes violentas. “Tem muito homicídio que poderia ser
evitado se as pessoas tivessem o mínimo de diálogo. Tem morte por briga
de vizinhança. Por causa de namoro. O tráfico leva mais tempo pra
pacificar. Porque temos que ganhar a confiança das lideranças e mostrar
outras alternativas. E isso envolve mais secretarias. Não vou dizer que a
mediação, sozinha, vai ser capaz de resolver. Porque não vai”,
sublinha.
Titular da Coordenadoria Especial de Políticas
Públicas de Juventude, Élcio Batista pondera que, muitas vezes, até o
diálogo com esses jovens é difícil de ser estabelecido por conta de um
histórico de ausência do poder público. “Eles já se afastaram da
política pública. Não estão mais na escola. Não acessam mais os
equipamentos de saúde. E não têm qualificação profissional. Dentro
dessas comunidades, a única referência deles é basicamente o
traficante.”
Ele projeta melhorias para os próximos quatro
anos. “Vai ser impossível resolver imediatamente. Perdeu-se muito tempo
sem conseguir fazer os investimentos necessários de infraestrutura
nessas áreas onde há conflitos e, de alguma forma, o envolvimento desses
jovens com o crime, as drogas, as gangues etc está muito vinculado a
essa perda de tempo. Os problemas foram se acumulando. Estamos pagando
um preço alto. A gente está trabalhando desde o primeiro dia pra tentar
melhorar as condições desses lugares. Ninguém vai resolver. Mas a gente
vai apresentar melhores resultados”, frisa Élcio.
Saiba mais
O
Cuca da Barra foi concebido e construído pela ex-prefeita Luizianne
Lins (PT). A inauguração ocorreu em 2009. Ela prometeu outros cinco
equipamentos, mas deixou o apenas outros dois em parte prontos: os Cucas
do Jangurussu e do Mondubim.
O treinamento do pessoal dos Cucas do Jangurussu e Mondubim para a mediação de conflitos deve iniciar em março. Até o meio do ano, a ideia é os núcleos dos três Cucas terem espaço físico definido e atuação massificada.
Para Élcio Batista, os conflitos, sejam eles interpessoais ou territoriais, só vão diminuir/acabar quando políticas articuladas de urbanização, educação, segurança pública e saúde forem implementadas. “Mas a gestão não está preparada para agir de forma intersetorial. O processo é lento”, admite.
O treinamento do pessoal dos Cucas do Jangurussu e Mondubim para a mediação de conflitos deve iniciar em março. Até o meio do ano, a ideia é os núcleos dos três Cucas terem espaço físico definido e atuação massificada.
Para Élcio Batista, os conflitos, sejam eles interpessoais ou territoriais, só vão diminuir/acabar quando políticas articuladas de urbanização, educação, segurança pública e saúde forem implementadas. “Mas a gestão não está preparada para agir de forma intersetorial. O processo é lento”, admite.
Serviço
Cuca da Barra do Ceará
Onde: avenida Presidente Castelo Branco, 6417, Barra do Ceará
Telefone: 3237 4688
Cuca Jangurussu e Cuca Mondubim
Inauguração: 21 de fevereiro
Resumo da série
Ontem,
O POVO mapeou as áreas de Fortaleza que sofrem com disputas de
gangues. Segundo a Polícia, 16 regiões apresentam conflitos graves de
territorialidade. Em 2011, era “apenas” sete. Outras 17 apresentam
problemas de menor expressão. Hoje, a série de reportagens mostra a
aposta da Prefeitura nos Centros Urbano de Cultura, Arte, Ciência e
Esporte (Cucas) para mediar pequenos embates que podem resultar em
assassinatos.
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